Por que achamos que somos melhores do que realmente somos Nov 17, 2025

Quantas vezes você já viu alguém afirmar, com toda certeza, que dirige melhor que a maioria das pessoas? Ou então ouviu alguém garantir que tem mais habilidades sociais, mais inteligência emocional, ou que é menos propenso a cometer erros do que os outros? Provavelmente muitas vezes. Mas agora seja honesto com você mesmo: quantas vezes você já se viu fazendo exatamente a mesma coisa?

A verdade é que pensar sobre si mesmo como sendo um pouco melhor do que realmente é é algo extremamente comum. Não é exclusivo de pessoas arrogantes ou excessivamente confiantes. É algo que todos fazemos, em maior ou menor grau. O que é curioso nisso tudo é como geralmente nem percebemos que estamos fazendo isso e é exatamente essa falta de percepção que torna o fenômeno tão interessante de analisar.

O efeito Dunning-Kruger e a doce ilusão da competência

Existe uma história famosa sobre um homem que resolveu roubar um banco passando limão no rosto. Ele acreditava genuinamente que, assim como o suco de limão funciona como "tinta invisível" para mensagens secretas, seu rosto ficaria invisível às câmeras. Não é piada, aconteceu mesmo! Esse caso levou dois psicólogos, Dunning e Kruger, a estudar profundamente esse comportamento tão intrigante. Eles descobriram que, em geral, pessoas incompetentes não têm sequer habilidade suficiente para reconhecer a própria incompetência.

E aqui entra o ponto-chave dessa discussão: não é apenas um comportamento raro ou estranho. Isso está em todo lugar. Pense naquele colega que acredita ser excelente comunicador, mas é incapaz de perceber quando está irritando alguém. Ou naquele gestor que se vê como um grande líder, mas cujos subordinados mal conseguem disfarçar o descontentamento. Quanto menos você sabe sobre algo, maior é a chance de você superestimar o quanto sabe sobre aquilo.

Mas calma, não é apenas sobre incompetência. Pessoas com bons níveis de competência também exageram suas capacidades, talvez não de forma tão grotesca, mas frequentemente de maneira sutil, quase imperceptível. E talvez aqui esteja algo ainda mais intrigante: mesmo pessoas consideradas muito capazes tendem a exagerar suas próprias qualidades. Por que isso acontece?

O conforto das mentiras que contamos a nós mesmos

Quando nos enxergamos como melhores do que somos, estamos alimentando um mecanismo importante para nossa autoestima e saúde emocional. Essa visão otimista sobre nós mesmos, embora imprecisa, acaba nos ajudando a enfrentar o dia a dia com menos ansiedade, menos insegurança e mais disposição para arriscar.

Imagine que você fosse realmente consciente de todas as suas limitações o tempo inteiro. Será que conseguiria se levantar todas as manhãs com tanta motivação para enfrentar desafios diários? Provavelmente não. Essa leve "mentira saudável" nos mantém em pé, nos empurra para frente, nos ajuda a sobreviver emocionalmente em um mundo cheio de competição e incertezas.

Mas nem tudo são flores nessa história. Aí está o outro lado da moeda: se por um lado essa autopercepção exageradamente positiva nos dá coragem, por outro pode nos levar a cometer erros terríveis por pura falta de autocrítica.

Consequências de uma visão inflada de si mesmo

Quantas vezes já não vimos alguém abrindo um negócio porque acredita ter uma "ideia incrível", sem considerar seriamente as dificuldades reais envolvidas? Ou quantas relações não terminaram porque uma das partes nunca foi capaz de enxergar seus próprios erros?

Essa dificuldade em ver a realidade como ela é pode levar a situações complicadas. Acreditar cegamente nas próprias capacidades pode resultar em decisões precipitadas pelo senso elevado de si mesmo, pouco estudo de riscos, erros estratégicos graves e até mesmo conflitos desnecessários em relacionamentos interpessoais.

Mas nem precisamos ir tão longe. No dia a dia mesmo, pequenas decisões, como não ouvir um conselho que parece crítico demais, ou assumir tarefas que claramente ultrapassam nossa capacidade atual, podem resultar em frustrações constantes, minando aos poucos nossa verdadeira autoestima, aquela que vem das conquistas reais.

E quando o contrário acontece?

Curiosamente, há momentos em que as pessoas também se subestimam. Geralmente são pessoas mais competentes que, justamente por conhecerem bem um determinado assunto, acabam percebendo com mais clareza tudo que ainda precisam aprender. Isso pode criar uma sensação enganosa de inadequação.

O resultado é paradoxal: pessoas menos competentes cheias de confiança e pessoas muito competentes inseguras. Uma espécie de inversão quase injusta que, muitas vezes, leva a oportunidades desiguais na vida prática. Um candidato superconfiante em uma entrevista pode conseguir um emprego que uma pessoa mais competente, porém insegura, talvez não consiga.

Onde está o equilíbrio então?

Talvez o grande desafio seja encontrarmos uma visão mais honesta e equilibrada de nós mesmos. Não precisa ser exatamente precisa, até porque, convenhamos, é quase impossível. Mas pelo menos ser suficientemente realista para ouvir críticas sem tanta resistência, para buscar conselhos quando necessário, para reconhecer falhas antes que elas se tornem grandes demais.

Se há algo valioso a tirar dessa reflexão toda, talvez seja simplesmente isso: entender que todos nós temos essa tendência natural de nos vermos melhores do que somos. Reconhecer isso já é um primeiro passo importante para uma vida mais consciente e, no fundo, talvez mais feliz.

Afinal, ninguém precisa ser perfeito para ser realmente bom no que faz. E reconhecer as próprias imperfeições pode ser uma das qualidades mais impressionantes que alguém pode ter.